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Matéria – O Gênio de Adam

Ser fã de James Bond significa, de certa forma, ser fã também de cinema. Afinal uma série cinematográfica de mais de 50 anos e 23 filmes na bagagem permeia diversas épocas diferentes nas quais a forma de se fazer cinema, bem como a mentalidade das pessoas divergiu bastante.

SITE_Banner_ADAMNeste panorama temos filmes como 007 Contra Goldfinger (Goldfinger, UK, 1964) e Operação Skyfall (Skyfall, UK 2012) que gozam ambos de enorme prestígio entre os fãs e que representam épocas muito distintas, mas que também mostram como a franquia se manteve fiel a alguns elementos durante todos estes anos.

Uma das características que mais me chamam a atenção em todos estes filmes são os sets. Desde a sala de jantar do Dr. No em 007 Contra o Satânico Dr. No (Dr. No, UK, 1962), até o cassino em Macau em Operação Skyfall o que nos salta aos olhos é o trabalho do(a) Direto(a) de Arte (Em inglês Production Designer ou Art Director dependendo da época).

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O(a) Diretor(a) de Arte em cinema é o(a) responsável pela concepção visual da obra como um todo, coordenando a equipe de arte composta por cenógrafos, figurinistas, maquiadores. Cabe a ele(a) a função de criar uma identidade visual que identifique e destaque a película, isso faz com que seu envolvimento com Diretores e Produtores aconteça logo no início da concepção do projeto, pois seu trabalho abrange desde escolha de locações, elaboração de sets até a confecção de figurinos, maquiagem e penteados.

Todo bondmaníaco que se preze sabe que estes elementos visuais sempre tiveram um grande papel dentro da franquia, quase como um personagem recorrente que todos esperamos ver no próximo filme. Muitas foram às vezes em que o produtor Albert A. “Cubby” Broccolli citou a importância da escolha de locações exóticas e construção de sets grandiosos para o resultado final do filme, bem como sucesso resultante.

Um dos grandes responsáveis por esta marca visual da franquia 007 é o alemão Ken Adam.

Nascido Klaus Hugo Adam (posteriormente Kenneth Adam), em 5 de fevereiro de 1921em Berlim, Alemanha e pertencente a uma família judaica, teve que fugir junto com a família para a Inglaterra aos 13 anos para escapar da perseguição iniciada com a ascensão do partido Nazista
Ken_Adam_-_Lotus_Esprit_Concept Alemão ao poder em 1933.  Em Londres completou seus estudos na St Paul’s School, estudando depois arquitetura na University College London. Devido à sua origem alemã alistou-se ao Corpo Real de Pioneiros durante a Segunda Guerra Mundial, grupo de apoio ás forças armadas inglesas que aceitava cidadãos de países do Eixo. Mais tarde em 1940 ele consegue alistar-se como piloto da RAF (Royal Air Force), sendo ele e o irmão os únicos pilotos alemães a voarem pela força aérea inglesa durante a guerra.

O primeiro trabalho de Adam no cinema aconteceu depois do término da guerra, em 1948, no filme This Was a Woman (UK), durante o qual conheceu sua esposa italiana Maria Letitzia, com a qual é casado até hoje. Nos anos 50 mudou-se para Hollywood trabalhando em grandes produções do cinema como Ben-Hur (USA, 1959) e Helena de Tróia (Helen of Teoy, USA, 1956) sem ser creditado, ou em diversas outras funções no departamento de arte. O primeiro crédito como diretor de arte aconteceria apenas em 1956 com o filme Soho Incident (UK). Com uma carreira bastante longa constam em seu currículo 43 créditos como Production Designer, 8 como Art Director e mais 16 em outras funções relacionadas ao departamento de arte.

Extremamente talentoso, é ganhador por duas vezes do prêmio Oscar de melhor direção de arte: 1976 por Barry Lyndon (UK/USA) e 1995 por As Loucuras do Rei George (The Madness of King George, UK). Recebeu Também por duas vezes o prêmio BAFTA (British Academy of Film and Television Arts): 1965 por Dr. Estranho Amor (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, USA/UK) e 1966 por Ipcress: Arquivo Confidencial (The Ipcress File, UK).

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Em 1962 foi convidado pelos produtores Cubby Broccolli e Harry Saltzman para participar da primeira adaptação de James Bond ao cinema, 007 Contra O Satânico Dr. No (Dr. No, UK), aonde junto com os produtores definiu a grandiosidade de sets e a beleza de locações como um dos elementos recorrentes da franquia. Quem já teve a oportunidade de assistir ao documentário Ken Adam: Designing Bond percebe o quão grande era sua a dedicação na elaboração dos sets e escolha das locações.

São pertencentes a ele sets como a já citada sala de jantar do Dr. No, cheia de objetos de arte, a ampla sala de reuniões de Goldfinger, as instalações “futuristas” de Karl Stromberg (007 O Espião Que Me Amava/The Spy Who Loved Me, UK, 1986) e Hugo Drax (007 Contra O Foguete Da Morte/Moonraker, UK, 1989), mas sem dúvida um dos sets mais memoráveis é o vulcão/covil de Blofled em Com 007 Só Se Vive Duas Vezes (You Only Live Twice,UK, 1967).

O set construído em Pinewood Studios, próximo a Londres, era enorme. Foram usadas 700 toneladas de aço estrutural, 200 quilômetros de aço tubular e mais de 200 toneladas de gesso. Este investimento todo custou mais de US$ 1 Milhão de Dólares, uma quantia exorbitante para a época, porém os produtores não pestanejaram em fazer este investimento, confiando no trabalho de Adam. O resultado final pode ser observado na sequencia final do filme quando Bond, junto com o grupo de ninjas treinados por Tiger Tanaka, invade a instalação.Ken_Adam_-_Moonraker_Shuttle

Ken Adam participou ao todo de 8 filmes da franquia 007 da EON Poductions: 007 Contra O Satânico Dr. No, 007 Contra Goldfinger, 007 Contra A Chantagem Atômica (Thunderball, UK, 1965), Com 007 Só SE Vive Duas Vezes, 007 Os Diamantes São Eternos (Diamonds Are Forever, UK, 1971), 007 O Espião Que Me Amava e 007 Contra o Foguete da Morte. Nestes filmes todos podemos ver a genialidade de Ken Adam estampada no bom gosto e grandiosidades dos sets que constituem, indubitavelmente, alguns dos mais belos da história do cinema.

P.S. Além de sua contribuição artística Ken Adam deixa seu legado na franquia 007 através de seu sucessor Peter Lamont, que por diversas vezes trabalhou como auxiliar de Adam e viria a torna-se outra figura importante dentro da franquia, mas isto é outra história.

Por: Lucian Novo

Bondcast

4 Comments

  1. ele é um gênio com certeza e contribuiu para a série de maneira espetacular. é uma grande surpresa que ele foi diretor de arte do maior filme para mim de todos os tempos que é ben hur. uma lenda viva.

  2. Como cinéfilo eu sei que uma boa arte pode salvar as vezes um roteiro ruim ou até mesmo uma atuação ruim. Todo o conjunto de um filme é importante e o papel que Ken Adam desempenhou nos filmes de 007 da qual participou, ajudou a garantir que o legado de Bond se perpetuasse por 50 longos anos e que ainda vai existir por muitos outros longos anos…. Parabéns Lucina pela bela homenagem e por lembrar de um setor de um filme que muitas vezes passa despercebido por quem só “assisti” filmes ao invés de “apreciar” esse mesmo filme em todo seu completo teor…

    • Valeu brother! Apreciadores de cinema prestam tenção nesses detalhes. Logo farei uma sobre Peter Lamont. Abraço!

  3. Ken Adam foi O cara. Sem ele os filmes jamais teriam a dimensão cinematográfica que apenas os clássicos de James Bond conseguiam trazer no cinema até então. Em um tempo em que CGI era apenas lenda e uma tecnologia distante, ele conseguiu proporcionar cenários tão vivos e deslumbrantes que computador nenhum nos dias atuais conseguiria recriar.

    ótimo artigo.

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